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Gangues do Rio de Janeiro Imperial - Parte 2/6

Durante o Império, as maltas de capoeira atemorizaram a capital. Escravos renegados usavam esse misto de dança e luta para desafiar seus senhores e controlar bairros inteiros da cidade

por Maurício Barros de Castro

A praça XV de Novembro em 1904: após a expulsão dos capoeiras, a cidade foi remodelada para se enquadrar nos padrões europeus de urbanismo e civilidade

A condição ambígua do escravo no Rio de Janeiro colonial e, posteriormente, imperial possibilitou a associação dos capoeiras em maltas. A dependência da cidade em relação ao escravo fazia com que ele transitasse por vários segmentos sociais e espaços geográficos. Um lugar-chave para os encontros entre os capoeiras eram os chafarizes. Distribuídos em alguns pontos da capital, eram locais de disputa e integração dos escravos capoeiras que iam buscar água para as casas de seus senhores.

O mais antigo registro da palavra “capoeira” de que se tem notícia data de 1789 e se refere à libertação de um escravo chamado Adão, preso nas ruas do Rio de Janeiro devido à prática do jogo. Esse documento mostra que a repressão à capoeiragem acontecia antes mesmo do período joanino.

Havia muitos motivos para a capoeira ser perseguida. O primeiro deles era que inicialmente se tratava de uma prática de escravos rebeldes, soltos nas ruas, abertos às trocas culturais que levaram a capoeira a assimilar o uso da navalha, a partir de contatos com brancos das classes baixas, como os barbeiros e outros faquistas.

A navalha se tornou a arma-símbolo da capoeira, mas também eram utilizados bengalas e porretes nas lutas. Além disso, havia o repertório de golpes, como rasteiras, cabeçadas e rabos de arraia, entre outros. Ao mesmo tempo que absorveu outras práticas culturais, o capoeira passou a transmitir sua arte para representantes de outras classes sociais, chegando a atingir a elite. As maltas podiam ter poucos integrantes, algumas dezenas ou até 100 capoeiras, entre eles negros escravizados, libertos e uma minoria de brancos.

A geografia das gangues era determinada pelas freguesias, mas, apesar de existirem muitos grupos que pertenciam a essas localidades específicas, a cidade foi dividida em duas grandes maltas: Nagoas e Guaiamuns. A zona portuária e a área central da cidade eram controladas pelos Guaiamuns, que ocuparam os pontos de fundação do Rio de Janeiro, mais densamente povoados e onde foram erguidas as primeiras construções da capital, como o Paço Imperial, os chafarizes, as casas, quiosques e cortiços, também chamados de “cabeças de porco”.

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