Outros defendem que sua origem tem se dado a partir dos processos de fuga das senzalas e da criação de quilombos, sendo o próprio Zumbi apontado como um capoeirista. O fato é que uma vez utilizado como arma pelos escravizados, sua prática foi desde o ínicio coibida pelos senhores de engenho e ao longo dos séculos, mesmo após a abolição, chegou a ser considerada fora de lei pelas autoridades brasileiras.
Contudo, existiu um período na historia do pais em que os capoeiristas não só foram requisitados pelo governo, como chegaram a receber a alcunha de heróis da pátria, e isso ocorreu antes mesmo que fosse decretado o fim da escravidão.
Por volta de 1864, Brasil, Argentina e Uruguai uniram-se contra o Paraguai naquele que viria a ser considerado um dos conflitos mais sangrentos da América do Sul no século XIX. No Brasil, essa guerra acabou mobilizando vários setores da sociedade desde as camadas mais ricas até os chamados grupos marginalizados, que incluíam mestiços, pobres, ex-escravos e também escravos às vezes enviados para o fronte após serem doados por seus senhores ou com a promessa de serem alforriados no final da guerra.
Conforme o conflito ia avançando e o exército paraguaio se mostrava maior numericamente que o da Tríplice Aliança, uma forte propaganda interna tentava insuflar o patriotismo brasileiro, fazendo com que variados grupos se apresentassem de forma voluntária para pegar em armas e servir ao país.
É claro que os voluntários da pátria receberam do império alguns incentivos materiais, que viriam em forma de remuneração durante os 4 anos de serviço, recompensas de terras em colônias agrícolas após a guerra, cargos em serviços públicos, e para os escravos a alforria.
Da Bahia, os grupos formados por homens negros embarcaram para os campos de batalha no ano de 1866, e dentro deles estava boa parte dos combatentes capoeiristas que se destacariam na vitória brasileira sobre os paraguaios.
A capoeira como prática de luta do século XIX, diferia-se um pouco do que costumamos ver nos dias atuais. Com golpes precisos e às vezes mortais, os capoeiristas ou capoeiras, como eram chamados, conseguiam se sobressair nos confrontos que envolviam embatas corporais.
Na tomada do Forte Curuzu, um dos mais importantes da guerra, os combatentes do batalhão dos Zuavos Baianos, tiveram um papel fundamental, o tenente e capoeira Marcolino José Dias chegou a ser aclamado como herói nacional pelo exército brasileiro e pela imprensa quando enfrentou sozinho vários soldados para paraguaios, sendo ferido na ação. Após isso, mesmo com o ferrimento, ele arrancou a bandeira paraguaia do pavilhão, hasteando em seguida a bandeira brasileira no lugar.
Vários outros capoeiristas receberam a atenção por sua participaçao na Guerra do Paraguai, alguns chegaram a ser condecorados e conseguiram se manter na carreira militar ou no serviço público, mas para a maioria, o retorno glorioso foi esquecido, e como meio de sobrevivencia muitos recorreram a capangagem.
Neste ponto é preciso destacar que o vínculo dos capoeiras a essa profissão reforçava a ideia de que eles não passavam de valentões perigosos e violentos.
Este era um estigma que já existia anteriormente devido ao recrutamento para a guerra ter ocorrido também a partir dos complexos prisionais, onde muitos cumpriam pena por violência e vadiagem, e com atuação conflitante das Maltas inimigas nas ruas do Rio de Janeiro, a capoeira volta ao radar das autoridades brasileiras, sofrendo novamente uma forte repressão, principalmente a partir do ano de 1880. Ainda assim, é possível perceber o envolvimento dos grupos na política e na luta abolicionista.
Com o advento da República, a prática passa a ser considerada fora da lei pelo Código Penal Brasileiro, e os que eram pegos descumprindo a ordem, poderiam ser deportados para cumprir pena em Fernando de Noronha.
Mas a partir do século XX, começa a surgir o movimento para a transformação da capoeira em uma prática esportiva genuinamente brasileira, o esforço era para que houvesse a adoção do ensino da capoeira nos meios institucionais, e que aos poucos ela fosse sendo desassociada da imagem violenta, criada para ela desde os séculos anteriores.
Somente na década de 30, a prática voltaria a ser permitida por lei, mas ainda assim, somente em recintos fechados e com a vigilância policial. Contudo, ao se permitir o ensino formal da luta nas academias, o governo Vargas abriu o caminho para a construção de sua existência como expressão cultural e de orgulho do resgate das raízes africanas no Brasil...
Fonte: História do Brasil Doc
Bônus Musical
Guerra do Paraguai (Mestre Rodolfo / Mestre Cobra)
Na guerra do Paraguai
Uma raça se destacou
Na destreza e na coragem
Muitas glórias conquistou
Havia um negro
O nome Negro Tião
Foi pra guerra voluntário
Em troca de liberdade
No pantanal
A batalha do Tuiuti
Guarani Cerro Corá
Ele mostrou o seu valor
Na negativa
Rasteira, rabo de arraia
Faca de ponta, zagaia
Foi ganhando promoção
Mas quis a sorte
E uma lança certeira
O roubou a derradeira
Esperança de liberdade
Sangue correu
Em pantanais paraguaio
Em mais uma terra estranha
Um corpo negro tombou
E o seu sangue
Não era preto, nem escravo
Nem azul, nem de outra cor
Era vermelho
Que se espalhou como vento
Trazendo um forte alento
Para o povo brasileiro
Camaradinha...
O Nego é bom
Iê, o nego é bom camará (couro)
Iê, sabe jogar
Iê, sabe jogar camará (couro)
Iê, a capoeira
Iê, a capoeira camará (couro)
Iê, da volta ao mundo
Iê, da volta ao mundo camará (couro)
Comentários
Postar um comentário