Manoel Henrique Pereira (1897?-1920?), Besouro Mangangá ou Besouro Cordão de Ouro foi um lendário capoeirista da região de Santo Amaro, Bahia. Muitos e grandiosos feitos lhe são atribuídos. Diziam que tinha o "corpo fechado", que balas e punhais não podiam feri-lo. Porém, mesmo as circunstâncias da sua morte são contraditórias. Há versões de que foi num confronto com a polícia, e outras que foi na "trairagem", num ataque de faca pelas costas.
A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manuel Henrique Pereira que, desde cedo aprendeu, com o Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado como Besouro Mangangá por causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era para tal.
Negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em lugar fixo nem teve profissão definida.
Quando os adversários eram muitos e a vantagem da briga pendia para o outro lado, "Besouro" sempre dava um jeito, desaparecia. A crença de que tinha poderes sobrenaturais veio logo, confirmando o motivo de ter ele sempre que carregar um "patuá". De trem, a cavalo ou a pé, embrenhando-se no matagal, Besouro, dependendo das circunstâncias, saia de Santo Amaro para Maracangalha, ou vice-versa, trabalhando em usinas ou fazendas. Certa vez, quem conta é o seu primo e aluno Cobrinha Verde, sem trabalho, foi a Usina Colônia (hoje Santa Eliza) em Santo Amaro, conseguindo emprego. Uma semana depois, no dia do pagamento, o patrão, como fazia com os outros empregados, disse-lhe que o salário havia "quebrado" para São Caetano. Isto é: não pagaria coisa alguma. Quem se atrevesse a contestas era surrado e amarrado num tronco durante 24 horas. Besouro, entretanto, esperou que o empregador lhe chamasse e quando o homem repetiu a célebre frase, foi segurado pelo cavanhaque e forçado a pagar, depois de tremenda surra.
Misto de vingador e desordeiro, Besouro não gostava de policiais e sempre se envolvia em complicações com os milicianos e não era raro tomava-lhes as armas, conduzindo-os até o quartel. Certa vez obrigou um soldado a beber grande quantidade de cachaça. O fato registrou-se no Largo de Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O militar dirigiu-se posteriormente à caserna, comunicando o ocorrido ao comandante do destacamento, Cabo José Costa, que incontinente designou 10 praças para conduzir o homem preso morto ou vivo. Pressentindo a aproximação dos policiais, Besouro recuou do bar e, encostando-se na cruz existente no largo, abriu os braços e disse que não se entregava. Ouviu-se violenta fuzilaria, ficando ele estendido no chão. O cabo José aproximou-se e afirmou que o capoeirista estava morto. Besouro então ergueu-se, mandou que o comandante levantasse as mãos, ordenou que todos os soldados se fossem e cantou os seguintes versos: Lá atiraram na cruz/ eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/ Besouro caiu no chão fez que estava deitado/ A polícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do mangue.
As brigas eram sucessivas e por muitas vezes Besouro tomou partido dos fracos contra os propritários de fazendas, engenhos e policiais. Empregando-se na Fazenda do Dr. Zeca, pai de um rapaz conhecido por Memeu, Besouro foi com ele às vias de fato, sendo então marcado para morrer.
Homem influente, o Dr. Zeca mandou pelo próprio Besouro, que na atilde; não sabia ler nem escrever, uma carta para um amigo seu , administrador da Usina Maracangalha, para que liquidasse o portador. O destinatário com rara frieza mandou que Besouro esperasse a resposta no dia seguinte. Pela manhã, logo cedo, foi buscar a resposta, sendo então cercado por cerca de 40 soldados, que incontinente mandaram fogo, sem contudo atingir o alvo. Um homem entretanto, conhecido por Eusébio de Quibaca, quando notou que Besouro tentava afastar-se gingando o corpo, chegou sorrateiramente e desferiu-lhe um golpe violento com uma faca de tucum* (ticum). Manuel Henrique, o Besouro Mangangá, morreu jovem, com 27 anos, em 1924, restando ainda dois dos seus alunos Rafael Alves França, Mestre Cobrinha Verde e Siri de Mangue.
Hoje, Besouro é símbolo da Capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade com que sempre se comportou com relação aos fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.
Várias músicas de capoeira são sobre Besouro como a está abaixo:
Besouro Mangangá
Autor: Perninha
Besouro Mangangá
Besouro Mangangá
João Grosso e Maria Haifa
Nunca iriam descobrir
Que de sua união
Uma lenda ia surgir
coro
Cidade de Santo Amaro
Terra do Maculelê
Viu os Mestres Popo e Vavá
E viu Besouro a nascer
coro
Besouro cordão de ouro
Manoel Henrique Pereira
Desordeiro pra polícia
Uma lenda pra capoeira
coro
Mandinga não vai pegar
Pois tinha corpo fechado
Conheceu Noca, Barroquinha
Doze Homens e Canário Pardo
coro
Lenda diz que Mangangá
Também sabia voar
Transformando em besouro
Pra da polícia escapar
coro
Mataram Besouro Preto
Não foi tiro nem navalha
Com uma faca de tucum
Na velha Maracangalha
*Obs: Faca de tucum: faca de tocum, ticum, ou tucum é uma palmeira existente no Nordeste brasileiro (Astrocaryum vulgare Mart.) As diferentes partes da palmeira tem uso no artesanato e para confecção de ferramentas. O cerne, a madeira interior da palmeira é dura como ferro e dela pode-se fazer uma faca.
Agora só para quem acredita: Ticum é madeira forte, como a gameleira, é madeira de Orixá. Besouro era feito nas artes da capoeira, com muita sabedoria. Era também protegido dos Orixás. Foi Tia Zulmira, de Santo Amaro da Purificação, sabida dos Orixás, Inquices e Voduns que fechou o corpo de Besouro. Ele era mesmo filho de Ogum. Filho de um Ogum bravo, de boa briga. Besouro tinha também Xangô e era justo. Com o corpo fechado por Zulmira nada poderia atingir Besouro. Nem bala, nem arma comum. Só mesmo madeira de Orixá, permitida o uso quando o falecido não cumpria suas obrigações. Ou quando estáva na hora de deixar o Aiê e virar ancestral. Besouro virou ancestral. Egum Baba. Ele visita as rodas de capoeira, chamado de berimbau. Às vezes resolve até vadiar um pouco...
A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manuel Henrique Pereira que, desde cedo aprendeu, com o Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado como Besouro Mangangá por causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era para tal.
Negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em lugar fixo nem teve profissão definida.
Quando os adversários eram muitos e a vantagem da briga pendia para o outro lado, "Besouro" sempre dava um jeito, desaparecia. A crença de que tinha poderes sobrenaturais veio logo, confirmando o motivo de ter ele sempre que carregar um "patuá". De trem, a cavalo ou a pé, embrenhando-se no matagal, Besouro, dependendo das circunstâncias, saia de Santo Amaro para Maracangalha, ou vice-versa, trabalhando em usinas ou fazendas. Certa vez, quem conta é o seu primo e aluno Cobrinha Verde, sem trabalho, foi a Usina Colônia (hoje Santa Eliza) em Santo Amaro, conseguindo emprego. Uma semana depois, no dia do pagamento, o patrão, como fazia com os outros empregados, disse-lhe que o salário havia "quebrado" para São Caetano. Isto é: não pagaria coisa alguma. Quem se atrevesse a contestas era surrado e amarrado num tronco durante 24 horas. Besouro, entretanto, esperou que o empregador lhe chamasse e quando o homem repetiu a célebre frase, foi segurado pelo cavanhaque e forçado a pagar, depois de tremenda surra.
Misto de vingador e desordeiro, Besouro não gostava de policiais e sempre se envolvia em complicações com os milicianos e não era raro tomava-lhes as armas, conduzindo-os até o quartel. Certa vez obrigou um soldado a beber grande quantidade de cachaça. O fato registrou-se no Largo de Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O militar dirigiu-se posteriormente à caserna, comunicando o ocorrido ao comandante do destacamento, Cabo José Costa, que incontinente designou 10 praças para conduzir o homem preso morto ou vivo. Pressentindo a aproximação dos policiais, Besouro recuou do bar e, encostando-se na cruz existente no largo, abriu os braços e disse que não se entregava. Ouviu-se violenta fuzilaria, ficando ele estendido no chão. O cabo José aproximou-se e afirmou que o capoeirista estava morto. Besouro então ergueu-se, mandou que o comandante levantasse as mãos, ordenou que todos os soldados se fossem e cantou os seguintes versos: Lá atiraram na cruz/ eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/ Besouro caiu no chão fez que estava deitado/ A polícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do mangue.
As brigas eram sucessivas e por muitas vezes Besouro tomou partido dos fracos contra os propritários de fazendas, engenhos e policiais. Empregando-se na Fazenda do Dr. Zeca, pai de um rapaz conhecido por Memeu, Besouro foi com ele às vias de fato, sendo então marcado para morrer.
Homem influente, o Dr. Zeca mandou pelo próprio Besouro, que na atilde; não sabia ler nem escrever, uma carta para um amigo seu , administrador da Usina Maracangalha, para que liquidasse o portador. O destinatário com rara frieza mandou que Besouro esperasse a resposta no dia seguinte. Pela manhã, logo cedo, foi buscar a resposta, sendo então cercado por cerca de 40 soldados, que incontinente mandaram fogo, sem contudo atingir o alvo. Um homem entretanto, conhecido por Eusébio de Quibaca, quando notou que Besouro tentava afastar-se gingando o corpo, chegou sorrateiramente e desferiu-lhe um golpe violento com uma faca de tucum* (ticum). Manuel Henrique, o Besouro Mangangá, morreu jovem, com 27 anos, em 1924, restando ainda dois dos seus alunos Rafael Alves França, Mestre Cobrinha Verde e Siri de Mangue.
Hoje, Besouro é símbolo da Capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade com que sempre se comportou com relação aos fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.
Várias músicas de capoeira são sobre Besouro como a está abaixo:
Besouro Mangangá
Autor: Perninha
Besouro Mangangá
Besouro Mangangá
João Grosso e Maria Haifa
Nunca iriam descobrir
Que de sua união
Uma lenda ia surgir
coro
Cidade de Santo Amaro
Terra do Maculelê
Viu os Mestres Popo e Vavá
E viu Besouro a nascer
coro
Besouro cordão de ouro
Manoel Henrique Pereira
Desordeiro pra polícia
Uma lenda pra capoeira
coro
Mandinga não vai pegar
Pois tinha corpo fechado
Conheceu Noca, Barroquinha
Doze Homens e Canário Pardo
coro
Lenda diz que Mangangá
Também sabia voar
Transformando em besouro
Pra da polícia escapar
coro
Mataram Besouro Preto
Não foi tiro nem navalha
Com uma faca de tucum
Na velha Maracangalha
*Obs: Faca de tucum: faca de tocum, ticum, ou tucum é uma palmeira existente no Nordeste brasileiro (Astrocaryum vulgare Mart.) As diferentes partes da palmeira tem uso no artesanato e para confecção de ferramentas. O cerne, a madeira interior da palmeira é dura como ferro e dela pode-se fazer uma faca.
Agora só para quem acredita: Ticum é madeira forte, como a gameleira, é madeira de Orixá. Besouro era feito nas artes da capoeira, com muita sabedoria. Era também protegido dos Orixás. Foi Tia Zulmira, de Santo Amaro da Purificação, sabida dos Orixás, Inquices e Voduns que fechou o corpo de Besouro. Ele era mesmo filho de Ogum. Filho de um Ogum bravo, de boa briga. Besouro tinha também Xangô e era justo. Com o corpo fechado por Zulmira nada poderia atingir Besouro. Nem bala, nem arma comum. Só mesmo madeira de Orixá, permitida o uso quando o falecido não cumpria suas obrigações. Ou quando estáva na hora de deixar o Aiê e virar ancestral. Besouro virou ancestral. Egum Baba. Ele visita as rodas de capoeira, chamado de berimbau. Às vezes resolve até vadiar um pouco...
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