Mestre Bimba não formava mestres. Para um indivíduo ter a graduação mais alta (titulação de Graduação dos Formandos Especializados) dada por Mestre Bimba, era preciso passar pelos seguintes estágios: Exame de Admissão à Academia, Batizado, Formatura e o Curso de Especialização.
Exame de Admissão à Academia
O Mestre Bimba contava que não queria vadios, malandros, vagabundos em sua academia. Para ele essas pessoas causaram muitos danos para a imagem da capoeira. Para que a matrícula fosse realizada, o pretendente tinha que ser trabalhador ou estudante e ser aprovado no exame por ele realizado. Dizia que em outros tempos aplicava uma "gravata" no pescoço do indivíduo e dizia: "aguenta aí sem chiar", se aguentasse estava matriculado, caso contrário ia aprender em outro lugar. O Mestre dizia que perdeu muitos alunos e dinheiro com isso, porém justificava que em sua academia só queria machos.
Mais tarde mudou o exame, agora o aluno tinha que fazer a "ponte" auxiliado por ele, que deixava as mãos do calouro tocar ao chão e mandava que ele aguentasse um pouco: "mostra-me tua junta que te direi quem és, pois junta de mais ou de menos atrapalha". Depois "queda de rins" para o lado esquerdo e para o direito, no centro uma pequena parada trocando os calcanhares, apoiado apenas nas mãos. Feito isso ele dizia se o pretendente podia se matricular
ou não.
Batizado
O Batizado consistia em colocar em cada calouro um apelido pelo qual ele seria agora reconhecido dentro da academia e nos meios capoerísticos. Este apelido era o seu "Nome de Guerra": O tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido. O apelido como dizia o Mestre, também servia como disfarce para os capoeiristas antigos, pois assim a polícia não podia identificá-los pelo verdadeiro nome.
Batizar o aluno, na academia do Mestre, era colocar o mesmo para jogar pela primeira vez com o acompanhemento do berimbau, já que o treinamento da sequência era feito sem o acompanhamento de qualquer instrumento. O Mestre escolhia o formado e tocava "São Bento Grande", que é o que caracteriza a Regional, o formado só acompanhava o calouro e o "forçava" a aplicar as defesas e "soltar" os golpes aprendidos. Ao final do jogo o Mestre colocava o calouro no centro da roda e pedia que um formado lhe desse um apelido, ou ele mesmo dava. Depois de escolhido o nome todos batiam palmas e o Mestre dizia: "A Benção do Padrinho" o calouro ao estender a mão para o formado que o batizou, recebia uma "Benção", golpe aplicado com o pé, que o jogava no chão. Porém este expediente era uma gozação e não era obrigatório, existiam calouros espertos que evitavam "tomar" a Benção e ficava por isso mesmo.
Este batizado é uma criação do Mestre Bimba, dentro de sua academia, nunca existiu isso antes, no passado. Era uma característica da Regional que depois que já tinha um bom número de alunos batizados, fazia a "Festa do Calouro", a "Festa do Batizado". Portanto é bom que todos que realizam tal festa hoje, deem o crédito, contem como surgiu este evento, é nossa obrigação resgatar as tradições da Regional de "seu" Bimba.
Atenção, essa coisa de ter que aplicar uma queda no aluno que está sendo batizado é uma adulteração do evento que deve ser evitado pois coloca em risco o calouro, sua integridade física e por que não moral. A queda é sempre uma consequência do jogo e não uma obrigação. Além do mais estão aplicando quedas que nem um bom capoeirista consegue cair bem, quanto mais um iniciante. Outra coisa, os "Mestres", "Professores" e "Formados" quando entram para batizar algum calouro, querem mostrar à todos, platéia, alunos, etc, que são fenomenais, aplicando toda espécie de movimento, na maioria das vezes saltos que nada têm a ver com a verdadeira Capoeira, roubando assim a cena do Calouro, que é quem naquela oportunidade tem que mostar serviço. Um pouco de moderação e mais Capoeira seria o ideal nesta festa. O "Cobra" tem todas as rodas do mundo para demonstrar sua perícia, o Calouro não. E mais, para que golpes aplicados com tanta violência em um iniciante que nem reflexos ainda possui? A festa é do Calouro, ele é a principal figura daquele show, ele é quem deve aparecer. Esta é a lei do batizado, esta é a lei da Capoeira, segundo Mestre Bimba.
Formatura
Para formar-se em Capoeira Regional o aluno cursava nunca menos que 6 meses: Mestre Bimba achava que com 6 meses, um aluno considerado normal, com 3 aulas por semana estaria pronto para se formar. O exame para a formatura era feito em 4 domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do Mestre. Os alunos a serem examinados eram escolhidos por ele. Durante estes 4 dias, os alunos tinham que fazer tudo aquilo que ele pedisse em termos de Capoeira. Em outros tempos, contava ele, um dos requisitos exigidos durante o exame era derrubar com uma "Benção" um toro de Jaqueira bastante pesado e de base circular, o qual o mestre derrubava demonstrando a seus alunos como fazê-lo, e comentava rindo: "Os meninos ficavam a manhã inteira tentando derrubar o toro, alguns terminavam com os pés inchados". No último domingo, o dia da escolha, o nervosismo era geral. Ao final do treino, Mestre Bimba dizia os nomes daqueles que tinham sido aprovados. Marcava o dia para lhes ensinar 23 novos golpes e também o dia da Formatura. O Mestre não dava satisfações aos reprovados, nem eles pediam.
No dia da Formatura o Mestre todo vestido de branco, desde as primeiras horas da tarde, com um apito pendurado no pescoço, alegre, multando os Formados que chegavam atrasados ou aqueles cujas Madrinhas se atrasavam. A multa correspondia em pagar para os Formados antigos, uma ou mais cervejas ou "Mulher Barbada", uma bebida preparada pelo Mestre Bimba, o único conhecedor da fórmula, a depender da falta cometida.
As formaturas tinham Paraninfo e Orador. Ao Orador, que era um Formado mais antigo e escolhido pelos Formandos, cabia falar um breve histórico da Capoeira Regional e do Mestre, colocando os presentes a par das coisas relacioanadas com a luta e o ritual de formatura. Quando o Orador terminava, o Mestre chamava o Paraninfo e lhe entregava as medalhas (Diploma) e os lenços azuis (Graduação dos Formados) às Madrinhas. O Formando não podia tocar na medalha nem no lenço durante a Formatura, pois se assim o fizesse seria automaticamente multado. O Paraninfo colocava a medalha no peito esquerdo de cada Formando e as Madrinhas colocavam os lenços no pescoço de cada um.
Este lenço era a maneira do Mestre homenagear os capoeiristas do passado que utilizavam um lenço de esguião de seda no pescoço para evitar o corte da navalha do inimigo, desferido sempre na carótida. Segundo Mestre Bimba, a navalha não corta seda. Os formandos se vestiam todo de branco, usando basqueteira, atendiam o chamado de Mestre Bimba que solicitava a demonstração de golpes, sequência, cintura desprezada, jogo de esquete (jogo combinado), em seguida a prova de fogo, o jogo com os formandos, também chamado de "Tira Medalha", um verdadeiro desafio, onde os alunos formados antigos tentavam tirar a medalha dos formandos com o pé, e assim manchar a dignidade e roupa impecalvemente branca. O aluno jogava com todos os seus recursos, enfrentando um capoeirista malicioso e técnico até o momento que o Mestre apitasse para encerrar o jogo. Dando continuidade ao ritual de formatura acontecia as apresentações de maculelê, samba de roda, samba duro e candomblé. A festa era realizada no Sítio Caruano, no Nordeste de Amaralina, na presença dos convidados e de toda a academia.
Curso de Especialização
Era um curso secreto onde só poderia participar os alunos formados por Mestre Bimba. Tinha como objetivo o aprimoramento da Capoeira, com ênfase para os ensinamentos de defesa e contra-ataque de golpes advindos de um adversário portando armas como navalha, faca, canivete, porrete, facão e até armas de fogo. Sua duração era de 3 meses divididos em 2 módulos, o primeiro com duração de 60 dias e era desenvolvido dentro da academia através de uma estratégia de ensino muito peculiar do Mestre. O segundo com duração de 30 dias e era realizado na Chapada do Rio Vermelho, tinha como conteúdo as "emboscadas". Ao final do curso o Mestre Bimba fazia uma festa aos moldes da formatura e entregava aos concluintes um "Lenço Vermelho" que correspondia a uma titulação de Graduação dos Formandos Especializados.
Exame de Admissão à Academia
O Mestre Bimba contava que não queria vadios, malandros, vagabundos em sua academia. Para ele essas pessoas causaram muitos danos para a imagem da capoeira. Para que a matrícula fosse realizada, o pretendente tinha que ser trabalhador ou estudante e ser aprovado no exame por ele realizado. Dizia que em outros tempos aplicava uma "gravata" no pescoço do indivíduo e dizia: "aguenta aí sem chiar", se aguentasse estava matriculado, caso contrário ia aprender em outro lugar. O Mestre dizia que perdeu muitos alunos e dinheiro com isso, porém justificava que em sua academia só queria machos.
Mais tarde mudou o exame, agora o aluno tinha que fazer a "ponte" auxiliado por ele, que deixava as mãos do calouro tocar ao chão e mandava que ele aguentasse um pouco: "mostra-me tua junta que te direi quem és, pois junta de mais ou de menos atrapalha". Depois "queda de rins" para o lado esquerdo e para o direito, no centro uma pequena parada trocando os calcanhares, apoiado apenas nas mãos. Feito isso ele dizia se o pretendente podia se matricular
ou não.
Batizado
O Batizado consistia em colocar em cada calouro um apelido pelo qual ele seria agora reconhecido dentro da academia e nos meios capoerísticos. Este apelido era o seu "Nome de Guerra": O tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido. O apelido como dizia o Mestre, também servia como disfarce para os capoeiristas antigos, pois assim a polícia não podia identificá-los pelo verdadeiro nome.
Batizar o aluno, na academia do Mestre, era colocar o mesmo para jogar pela primeira vez com o acompanhemento do berimbau, já que o treinamento da sequência era feito sem o acompanhamento de qualquer instrumento. O Mestre escolhia o formado e tocava "São Bento Grande", que é o que caracteriza a Regional, o formado só acompanhava o calouro e o "forçava" a aplicar as defesas e "soltar" os golpes aprendidos. Ao final do jogo o Mestre colocava o calouro no centro da roda e pedia que um formado lhe desse um apelido, ou ele mesmo dava. Depois de escolhido o nome todos batiam palmas e o Mestre dizia: "A Benção do Padrinho" o calouro ao estender a mão para o formado que o batizou, recebia uma "Benção", golpe aplicado com o pé, que o jogava no chão. Porém este expediente era uma gozação e não era obrigatório, existiam calouros espertos que evitavam "tomar" a Benção e ficava por isso mesmo.
Este batizado é uma criação do Mestre Bimba, dentro de sua academia, nunca existiu isso antes, no passado. Era uma característica da Regional que depois que já tinha um bom número de alunos batizados, fazia a "Festa do Calouro", a "Festa do Batizado". Portanto é bom que todos que realizam tal festa hoje, deem o crédito, contem como surgiu este evento, é nossa obrigação resgatar as tradições da Regional de "seu" Bimba.
Atenção, essa coisa de ter que aplicar uma queda no aluno que está sendo batizado é uma adulteração do evento que deve ser evitado pois coloca em risco o calouro, sua integridade física e por que não moral. A queda é sempre uma consequência do jogo e não uma obrigação. Além do mais estão aplicando quedas que nem um bom capoeirista consegue cair bem, quanto mais um iniciante. Outra coisa, os "Mestres", "Professores" e "Formados" quando entram para batizar algum calouro, querem mostrar à todos, platéia, alunos, etc, que são fenomenais, aplicando toda espécie de movimento, na maioria das vezes saltos que nada têm a ver com a verdadeira Capoeira, roubando assim a cena do Calouro, que é quem naquela oportunidade tem que mostar serviço. Um pouco de moderação e mais Capoeira seria o ideal nesta festa. O "Cobra" tem todas as rodas do mundo para demonstrar sua perícia, o Calouro não. E mais, para que golpes aplicados com tanta violência em um iniciante que nem reflexos ainda possui? A festa é do Calouro, ele é a principal figura daquele show, ele é quem deve aparecer. Esta é a lei do batizado, esta é a lei da Capoeira, segundo Mestre Bimba.
Formatura
Para formar-se em Capoeira Regional o aluno cursava nunca menos que 6 meses: Mestre Bimba achava que com 6 meses, um aluno considerado normal, com 3 aulas por semana estaria pronto para se formar. O exame para a formatura era feito em 4 domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do Mestre. Os alunos a serem examinados eram escolhidos por ele. Durante estes 4 dias, os alunos tinham que fazer tudo aquilo que ele pedisse em termos de Capoeira. Em outros tempos, contava ele, um dos requisitos exigidos durante o exame era derrubar com uma "Benção" um toro de Jaqueira bastante pesado e de base circular, o qual o mestre derrubava demonstrando a seus alunos como fazê-lo, e comentava rindo: "Os meninos ficavam a manhã inteira tentando derrubar o toro, alguns terminavam com os pés inchados". No último domingo, o dia da escolha, o nervosismo era geral. Ao final do treino, Mestre Bimba dizia os nomes daqueles que tinham sido aprovados. Marcava o dia para lhes ensinar 23 novos golpes e também o dia da Formatura. O Mestre não dava satisfações aos reprovados, nem eles pediam.
No dia da Formatura o Mestre todo vestido de branco, desde as primeiras horas da tarde, com um apito pendurado no pescoço, alegre, multando os Formados que chegavam atrasados ou aqueles cujas Madrinhas se atrasavam. A multa correspondia em pagar para os Formados antigos, uma ou mais cervejas ou "Mulher Barbada", uma bebida preparada pelo Mestre Bimba, o único conhecedor da fórmula, a depender da falta cometida.
As formaturas tinham Paraninfo e Orador. Ao Orador, que era um Formado mais antigo e escolhido pelos Formandos, cabia falar um breve histórico da Capoeira Regional e do Mestre, colocando os presentes a par das coisas relacioanadas com a luta e o ritual de formatura. Quando o Orador terminava, o Mestre chamava o Paraninfo e lhe entregava as medalhas (Diploma) e os lenços azuis (Graduação dos Formados) às Madrinhas. O Formando não podia tocar na medalha nem no lenço durante a Formatura, pois se assim o fizesse seria automaticamente multado. O Paraninfo colocava a medalha no peito esquerdo de cada Formando e as Madrinhas colocavam os lenços no pescoço de cada um.
Este lenço era a maneira do Mestre homenagear os capoeiristas do passado que utilizavam um lenço de esguião de seda no pescoço para evitar o corte da navalha do inimigo, desferido sempre na carótida. Segundo Mestre Bimba, a navalha não corta seda. Os formandos se vestiam todo de branco, usando basqueteira, atendiam o chamado de Mestre Bimba que solicitava a demonstração de golpes, sequência, cintura desprezada, jogo de esquete (jogo combinado), em seguida a prova de fogo, o jogo com os formandos, também chamado de "Tira Medalha", um verdadeiro desafio, onde os alunos formados antigos tentavam tirar a medalha dos formandos com o pé, e assim manchar a dignidade e roupa impecalvemente branca. O aluno jogava com todos os seus recursos, enfrentando um capoeirista malicioso e técnico até o momento que o Mestre apitasse para encerrar o jogo. Dando continuidade ao ritual de formatura acontecia as apresentações de maculelê, samba de roda, samba duro e candomblé. A festa era realizada no Sítio Caruano, no Nordeste de Amaralina, na presença dos convidados e de toda a academia.
Curso de Especialização
Era um curso secreto onde só poderia participar os alunos formados por Mestre Bimba. Tinha como objetivo o aprimoramento da Capoeira, com ênfase para os ensinamentos de defesa e contra-ataque de golpes advindos de um adversário portando armas como navalha, faca, canivete, porrete, facão e até armas de fogo. Sua duração era de 3 meses divididos em 2 módulos, o primeiro com duração de 60 dias e era desenvolvido dentro da academia através de uma estratégia de ensino muito peculiar do Mestre. O segundo com duração de 30 dias e era realizado na Chapada do Rio Vermelho, tinha como conteúdo as "emboscadas". Ao final do curso o Mestre Bimba fazia uma festa aos moldes da formatura e entregava aos concluintes um "Lenço Vermelho" que correspondia a uma titulação de Graduação dos Formandos Especializados.
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