Aqui vai mais um post para colocar todo mundo a pensar...
E A CORDA, QUEM INVENTOU?
PESQUISA: Neste artigo o autor, Irapuru Iru Pereira, questiona: quem e quando inventou-se o uso da corda, cordel e cordão como símbolo hierárquico da Capoeira?
Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br
Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006
Irapuru Iru Pereira*
Barra do Corda, Maranhão
Março de 2006
Satisfação é o mundo da Capoeira poder contar com esse importante veículo de divulgação de nossa Arte.
Conforme já adiantei em bate-papo via net, venho dividir com os leitores desse Jornal curiosidade sobre a História da Capoeira, cujo estudo tenho me dedicado há alguns anos por diletantismo, o que faz de mim mais "curioso" do que propriamente estudioso sobre a Capoeira. Trata-se da origem ("parição") da corda, cordel, cordão ou outra denominação regional para as graduações.
Tudo começou quando depois de uma Roda aqui na cidade em que eu moro, Barra do Corda-MA, meu filho então com 11 anos de idade, se reportando ao pronunciamento do Mestre que naquela ocasião por um tempo considerável falou da corda como importantíssimo elemento de graduação e promoção do Capoeira. Meu filho perguntou-me quem havia criado a Corda e quando isso havia acontecido. De lá pra cá, fazendo jus ao nome da cidade em que moramos, foi "Barra" desenrolar essa "Corda". De pronto tive que admitir não saber a resposta e parar para pensar o quanto em nosso cotidiano, alienadamente, adotamos e reproduzimos conceitos e comportamentos sem questioná-los, como Marx, Weber e Durkaeim explicam.
Diante da dúvida, fui aos meus poucos alfarrábios, e nada; procurei o Mestre autor do Sermão sobre a Corda, e nada; estive na Capital São Luís e conversando com velhos e novos mestres, nada; tenho visitado inúmeros sites, e também nada. Será falta de sorte de ainda não ter encontrado publicação esclarecedora sobre a questão, ou será que topei com um Ovo de Colombo na Capoeira?
A dúvida persiste e aproveito agora para dividi-la com os leitores do Jornal do Capoeira. Não somente por pura curiosidade, mas sim pelo fato de que na busca dessa informação muitos de meus conceitos sobre a Capoeira sofreram mudanças consideráveis, bem como a dúvida em questão acabou por me levar a acreditar que a Corda na Capoeira, com todo respeito ao respeito que os Capoeiristas de corda têm a ela, assume hoje um papel fetichista. E ao procurarmos entendê-la somos levados a debater e interpretar as fortes estruturas hierárquicas quem vêm sendo construídas na Capoeira e a validade disso para quem utopicamente considera o respeito ao outro, seja ele quem for: veterano ou incitante, como valor máximo na Capoeira. "Viva as utopias!".
Finalizo deixando um grande abraço a todos que fazem o Jornal do Capoeira e deixando aqui para o debate e troca de informações, minha dúvida : Quem ou que grupo criou a corda como símbolo de graduação e promoção na Capoeira ?
Irapuru Iru Pereira
* IRAPURU IRU PEREIRA, capoeira integrante do Grupo Angoleiros da Barra. O GABA CAPOEIRA de Barra do Corda-MA.
Ilustração: Vadiação em Barra do Cordo. Nos berimbaus estão Irapuru Iru, de preto, e Samuel Barroso, de amarelo.
Considerações sobre o emaranhado das graduações na capoeira
Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br
Edição 66 - de 26/Mar a 01/Abr de 2006
Miltinho Astronauta
São Sebastião, SP
São Sebastião, SP
Março de 2006
Continuam chegando, à nossa Redação, comentários e sugestões sobre a matéria/pesquisa do camarada IRAPURU IRU, de Barra do Corda, Maranhão: "E A CORDA, QUEM INVENTOU?".
Tema dos mais importantes e que, há algum tempo, vem preocupando os capoeiras. O artigo de André Luiz Lacé (1996), transcrito na edição anterior só aumentou o interesse geral pelo assunto.
Estamos encaminhando ao Sr. Irapuru Iru todas essas mensagens, com objetivo de municiar sua pesquisa. Em troca, ficaremos aguardando o resultado final da mesma, na certeza que teremos em mão um precioso subsídio para todo e qualquer seminário sério sobre capoeiragem.
Mas, enquanto esse relatório final não chega, como anunciamos na edição anterior, vamos dar também a nossa opinião, fazendo um pequeno resumo sobre a "novela" Cordel, cordão, corda etc...
A partir de meados da década de 1960, em São Paulo, quando os Mestres Zé de Freitas, Valdemar "Angoleiro", Paulo Gomes, Pinatti (foto 2, Dia do Capoeirista 2005, Câmara Municipal de São Paulo; ao fundo Vereador-campeão de Judô Aurélio Miguel), Joel, Gilvan, Suassuna, Brasília, Silvestre e outros estavam implantando a prática da capoeiragem na sociedade paulistana, não existia graduação, mas existia a hierarquia. Eles eram os mestres de fato, embora não o fossem de direito, uma vez que para serem de direito haveria a necessidade de serem reconhecidos pelo Departamento Nacional de Capoeira da Confederação Brasileira de Pugilismo (CBP), com sede no Rio de Janeiro.
Em 1969 foi realizado, no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, um Congresso sobre Capoeira, entre outros, com os seguintes objetivos: 1. Decidir se capoeira era esporte ou folclore; e 2. Desenvolver a capoeira no âmbito esportivo, dando-lhe uma roupagem mais "formal".
Participaram do congresso mestres representando os estados do Rio, Bahia e São Paulo. O desenrolar deste processo deu-se nos anos subseqüentes, quando Mestre Damianor Ribeiro de Mendonça (foto 1), então assessor da Confederação Brasileira de Pugilismo, redigiu o "Regulamento Técnico da Capoeira". Tal regulamento, do qual recebi cópia enviada pelo autor (M.Mendonça), foi publicado em 26 de dezembro de 1972, passando a vigorar em Janeiro do ano seguinte.
Mestre Geraldinho (Geraldo de Carvalho), de Nova Jersey, entrou pela mesma seara:
"Quando comecei a treinar em 1973, as graduações ainda não tinham padrões como os de hoje. Quando a Confederação de Pugilismo (CBP) fundou seu setor administrativo da Capoeira, acredito ter sido ai a regulamentação e criação das graduações na Capoeira da forma que temos hoje. Acredito também que os mestres mais antigos (André Lacé, Bogado, Suassuna, Joel, Baiano etc) que já participavam da capoeira no final da década de 60 e principio dos anos 70's, articularam o assunto quando preparavam-se para fundarem as organizações (entidades) para gestão desportiva da capoeira: FPC, FCRJ, etc". Na foto 3 estão Mestres Bogado e Geraldinho.
Flávio Soares, o contramestre Saudade, do Rio de Janeiro, participou do VII Festival de Capoeira da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, promovido pelo Acervo Cultural da Capoeira Artur Emídio de Oliveira, qual é coordenado pelo mestre Gilberto Oscaranha, e constatou com o próprio Mestre Mendonça que ele foi o "criador" dos cordéis e da hierarquia de graduações tão comuns nos dias de hoje.
Durante as discussões anteriores a aprovação do Regulamento citado acima (1972), Mestre Carlos Sena, aluno de Mestre Bimba, chegou a sugerir o uso de Fitas, não sendo a idéia, na ocasião, aprovada pela maioria.
Prevaleceu a forma de cordéis, muito embora a nomenclatura, sequência de cores e critério para graduação jamais lograram unanimidade no grupo. Sem contar que os mestres mais tradicionais da Bahia (Angoleiros) e do Rio (capoeiras de Sinhozinho) continuaram seguindo seus respectivos costumes.
Em São Paulo, em época anterior ao uso das cordas, cordéis e cordões, a graduação se dava pela cor das calças. Na Academia São Bento Pequeno, por exemplo, calça preta era novato, verde era batizado, amarelo era intermediário, azul referia-se a avançado e calça branca para o Mestre. A academia São Bento Pequeno foi fundada pelos Mestres Djamir Pinatti, Paulo Limão e Paulão.
Cabe ressaltar que o uso das cordas, cordéis e cordões, acompanhou a necessidade de se regulamentar a Capoeira face ao regime militar da época, sendo que o "agente regulador" seria, inicialmente, a Confederação Brasileira de Pugilismo. Com o avançar das Federações e Campeonatos, o uso deste tipo de graduação passou a ser comum, sendo assimilado em primeiro momento pelos estados do Rio, São Paulo e Bahia e, posteriormente, para os demais estados.
Salta aos olhos, enfim, que todo esse assunto precisa ser cuidadosamente rediscutido e melhor definido através de consenso. Decididamente ainda não surgiu uma solução com a verdadeira cara da capoeira.
Aproveito esta pequena crônica para homenagear Mestre Artur Emídio (foto 4, ladeado por Mestre Mendonça e capoeira China), um grande Mestre de Capoeira e o primeiro a ser reconhecido oficialmente mestre junto à CBP. A ele, e a todos seus discípulos (Damianor Mendonça, Paulo Gomes, Celso da Rainha...) nossos sinceros agradecimentos.
Comentários
Salve!
Muito obrigado e continue nos visitando.
Abraço.
O nome cordel é uma homenagem à literatura de cordel, um gênero literário de origem portuguesa onde os textos eram escritos em folhetos, pendurados em cordéis ou barbantes para exposição, esse gênero foi perpetuado no nordeste brasileiro passando a ser conhecido em todo o território nacional, onde seus autores ou cordelistas recitam seus textos/versos de forma melodiosa e cadenciada, muitas vezes acompanhados de uma viola.
As cores dessa graduação foram baseadas nas cores da Bandeira Nacional Brasileira, estabelecida de forma lógica, conforme a maior concentração ou quantidade dessa cor em nossa bandeira, sendo a primeira cor verde, depois o amarelo e o azul. A cor branca só entra no nível de mestre.
A graduação original de Cordel fundamentada pelo Mestre Mendonça tem 10 estágios, sendo eles:
1º estágio – Cordel Verde
2º estágio – Cordel Verde-Amarelo
3º estágio – Cordel Amarelo
4º estágio – Cordel Amarelo-Azul
5º estágio – Cordel Azul (Formado)
6º estágio – Cordel Verde-Amarelo-Azul (Contramestre)
7º estágio – Cordel Branco-Verde (Mestre de 1º Grau)
8º estágio – Cordel Branco-Amarelo (Mestre de 2º Grau)
9º estágio – Cordel Branco-Azul (Mestre de 3º Grau)
10º estágio – Cordel Branco (Mestre de 4º Grau)
http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/O-Legado-de-Mestre-Mendonca-para-a-Capoeira/0